17 de Maio de 2008, 01:15
Roma, 17 Mai (Lusa) - O Governo italiano rejeitou sexta-feira a violência em Nápoles contra acampamentos de ciganos, na sua maioria originários da Roménia, ao mesmo tempo que continua com as operações para a expulsão de estrangeiros.
O ministro do Interior, Roberto Maroni, da Liga Norte, partido aliado do primeiro-ministro, Silvio Berlusconi, qualificou de "injustificáveis" os recentes incêndios de cinco acampamentos ciganos vazios em Nápoles.
"Pode evitar-se que a raiva prevaleça sobre as regras de convivência civil e que se repitam episódios de injustificável violência como os que ocorreram lamentavelmente em Nápoles", disse o ministro, numa alocução durante a festa do 156/o aniversário do Corpo de Polícia.
Todavia, assegurou que o Estado dará todo o apoio necessário "para melhorar a segurança" da Itália.
É intenção do Governo "gerir com ordem e rigor a imigração interna e externa da União Europeia para garantir a convivência pacífica, de hoje e de amanhã, de todos os povos", acrescentou Maroni.
Enquanto Maroni pronunciava essas palavras, 11 romenos com antecedentes penais foram expulsos num voo directo para Bucareste.
Durante a noite, a capital assistiu a três controlos e operações noutros tantos acampamentos de ciganos em busca de imigrantes ilegais, onde foram detidas cinquenta pessoas que não tinham os documentos em ordem.
Tanto a violência vivida em Nápoles como o anúncio e a expulsão dos imigrantes que estão em Itália de forma ilegal ocorreram mal Berlusconi chegou ao poder.
Berlusconi e os seus parceiros fizeram da perseguição da pequena delinquência e da imigração ilegal uma das principais bandeiras na sua recente campanha eleitoral e, depois, no seu programa de Governo para esta legislatura.
O primeiro-ministro anunciou que no próximo dia 21 o Conselho de Ministros aprovará um decreto-lei sobre segurança pública e luta contra a imigração ilegal.
Até ao momento, ninguém em Itália parece objectar à actuação e aos anúncios do Governo, que não tiveram resposta por parte da oposição.
O diário "Corriere della Sera", sem citar fontes, escreveu sexta-feira que o presidente da República, Giorgio Napolitano, se mostrou "cauteloso" sobre o decreto-lei e exigiu para a sua entrada em vigor requisitos de "urgência e necessidade".
Essas observações foram interpretadas como uma resistência ao decreto por parte do chefe de Estado, mas o presidente da Câmara de Roma, Gianni Alemanno, da Aliança Nacional (direita), disse que o Governo estava de acordo com ele e que já tinha previsto que no decreto só figurem as medidas urgentes.
O ministro de Defensa, Ignazio La Russa, de visita ao Líbano, anunciou sexta-feira que "mais de dez" bases ali estacionadas, que já foram desmanteladas, serão transferidas para Itália e servirão, a partir de agora, como centros de acolhimento de clandestinos em vias de expulsão.
La Russa adiantou que se vai mudar o nome dos centros de acolhimento para chamá-los centros de identificação e expulsão, uma afirmação que contrasta com a proferida quinta-feira pelo seu colega do Interior que negou que estejam a ser preparadas expulsões maciças, proibidas pela União Europeia.
Um porta-voz da Comissão Europeia (CE) assegurou que a Itália não violou "até ao momento" as leis comunitárias sobre a livre circulação de pessoas.
Todavia, a mesma Comissão recordou quinta-feira à Itália que a expulsão de estrangeiros deve fazer-se "caso a caso", enquanto a Roma chegaram notícias de uma manifestação em Bucareste contra "xenofobia e a discriminação" em Itália.
O governo espanhol expressou sexta-feira desacordo sobre a política de imigração do executivo italiano e sublinhou que "rejeita a violência, o racismo e a xenofobia e, por isso, não pode partilhar o que está a suceder em Itália".
Esta posição foi assumida pela vice-presidente do governo espanhol, Maria Teresa Fernández de la Vega, no final da reunião semanal do Executivo, depois de questionada pelos jornalistas sobre as medidas contra a imigração ilegal que estão a ser preparadas pelo governo de Sílvio Berlusconi.
A vice-presidente sublinhou que "a imigração é um fenómeno necessário, bom sempre que seja legal e ordenado" e que a política que se aplica em Espanha está "baseada na lei, que permite reconhecer direitos e obrigações aos imigrantes".
"O governo espanhol não partilha a política de expulsões sem respeito pela lei e pelos direitos e muito menos actuações que podem exaltar a violência, o racismo e a xenofobia", afirmou Maria Teresa de la Vega, recordando que existem "mecanismos legais para combater a imigração ilegal".
"Esses são os mecanismos que devem ser usados e não outros", criticou.
A crítica espanhola não foi bem recebida em Itália, com o partido Itália dos Valores, aliado do Partido Democrata, na oposição, a denunciar uma "ingerência inaceitável".
TM/ARA.
Lusa/Fim
http://noticias.sapo.pt/lusa/artigo/48340226fe65faa60fe99e.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário