quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

O "churrascão diferenciado" na Cracolândia

Atualização - 18/01/2012


Nassif e galera, parabéns ao blog por ter conduzido um assunto tão espinhoso de forma a não aprofundar ainda mais o pré-conceito, o fosso social que existe entre os usuários e a sociedade, rolou muita coisa interessante, um texto sobre as falas destas pessoas, suas sociabilidade e sentimentos.  Agora, mais despreendido e aberto para esta questão, isso em função do que aprendemos por aqui, gostaria muito de conversar com umpentes químicos que vivem nas ruas. É o que vou fazer. Afinal de contas, somente o conhecimento, a conversa corpo-a-corpo, o exercício de ouvirmos o outro lado, o contato com a realidade do outro, para afastarmos de vez o preconceito em torno de um determinado assunto.  Quanto a este evento, gostaria muito de participar, se tiver aqui na minha cidade com certeza irei,  reuni algumas falas  anteriores, para pegarmos o fio da meada:

Por esquiber
Do Terra Magazine
O "churrascão da gente diferenciada", mobilização bem-humorada na web que ganhou ruas de Higienópolis, na capital paulista, em maio do ano passado, deve ter uma segunda edição. Desta vez, internautas organizam a "versão Cracolândia", uma forma de protestar contra a ocupação iniciada pela Polícia Militar na região central de São Paulo na semana passada.
p>Para divulgar a manifestação, foi criada uma página na rede social Facebook, convocando os usuários. Até por volta das 17 horas desta terça-feira (10), 360 pessoas - entre 5.719 convidados - haviam confirmado presença. O "churrascão" foi agendado para o próximo sábado (14), às 16h, na Rua Helvétia com Dino Bueno.
Confira o protesto:
"Churrascão diferenciado versão Luz: porque na 'Cracolândia' todo mundo é gente como a gente.
Neste sábado, venha mostrar para o governo que sua polícia não é bem-vinda em nossas ruas.
Sem oferecer alternativas decentes aos dependentes e sem respeitar os direitos humanos deles e dos outros usuários, trabalhadores e freqüentadores da região da Luz, o governo paulista vem ocupando militarmente, desde o dia 3 de janeiro, a zona conhecida como 'Cracolândia'.
Higienismo, preconceito, segregação, violência, intolerância, tortura, abuso de autoridade e mesmo suspeitas de assassinato passaram a ser ainda mais constantes nos dias e principalmente nas madrugadas do bairro.
Luiz Alberto Chaves de Oliveira, coordenador de Políticas sobre Drogas do governo, defendeu que a operação teria como objetivo trazer "dor e sofrimento" para os dependentes, forçando-os a buscar tratamento. Fica claro, no entanto, que os seres humanos que ali freqüentam ou vivem são a última preocupação de nossos governantes, que sabem muito bem que questões de saúde nunca poderão ser resolvidas por uma das polícias mais assassinas do mundo.
O objetivo da dor e do sofrimento é meramente expulsar aquelas pessoas dali para que o projeto da 'Nova Luz', que prevê demolição de um terço das construções da região e reconstrução do espaço com vistas ao lucro da especulação imobiliária, possa ser implementado.
Em reação a isso, dezenas de coletivos, grupos e entidades organizaram para este sábado mais um 'churrascão diferenciado', tipo de mobilização que ficou marcada na cidade como forma de combater, de forma bem humorada e crítica, o preconceito e o racismo dos políticos e das elites paulistanas. Traga seus instrumentos, cartazes, ideias, alimentos e o que mais achar necessário para tornar agradável este sábado de protesto e diálogo em defesa de políticas corretas, respeitosas e abrangentes em relação à população de rua (ou em situação de rua) e aos usuários e dependentes de drogas".
Primeira versão
A primeira versão do "churrascão da gente diferenciada" surgiu a partir de uma brincadeira nas redes sociais, motivada pela indignação de internautas após a reação contrária de moradores de Higienópolis à construção de uma estação de metrô na avenida Angélica, que corta o bairro, um dos mais valorizados da capital paulista. Diante da pressão, o governo de São Paulo, alegando razões técnicas, anunciou na época a mudança de local da estação.
O termo "gente diferenciada" foi adotado como ironia à declaração de uma moradora do bairro, que, em entrevista à Folha de S.Paulo, usou a expressão para se referir às pessoas que "ficam ao redor das estações do metrô".


A força desproporcional na Cracolândia

Do iG

Defensoria coletou 32 denúncias de abuso em ação na Cracolândia

Para a Defensoria, os métodos das corporações são“ absolutamente exacerbados, em face das pessoas, que são pobres, miseráveis e desarmadas”

A Defensoria Pública de São Paulo já coletou 32 denúncias de abusos cometidos durante a operação policial na região da cracolândia, no centro da capital paulista.
Segundo o coordenador do núcleo de Direitos Humanos do órgão, Carlos Weis, são casos “exemplificativos” de como a Polícia Militar (PM) e a Guarda Civil Metropolitana (GCM) estão agindo. Para ele, os métodos das corporações são “absolutamente exacerbados, em face das pessoas, que são pobres, miseráveis e desarmadas”.
O defensor falou durante uma reunião convocada pelas comissões de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa e da Câmara Municipal para discutir a ação policial que tenta acabar com o uso e tráfico de drogas no centro da cidade.
ia tem mantido reuniões com os órgãos do governo estadual para tentar uma mudança na forma de atuação da Polícia Militar nas ações de combate aos traficantes e usuários de drogas na cracolândia com uso de força desproporcional, segundo relatos. Para o defensor, o problema é mais de saúde do que de polícia. “Nós entendemos que se trata fundamentalmente de uma questão de saúde e social na cracolândia. Não tanto uma questão policial”, ressaltou Weis. Ele disse ter visto poucos agentes de saúde atuando em suas visitas à região.
O defensor entende também que “as pessoas que não estiverem cometendo o crime de tráfico de drogas têm todo o direito de permanecer aglomeradas, reunidas e de não se locomover, se não quiserem”.


Agentes militares abordam suspeitos durante operação realizada na Cracolândia, nesta sexta-feira (6) - Foto: AE 
O diretor do Sindicato dos Guardas Civis Metropolitanos, Clóvis Roberto Pereira, disse, no entanto, que os membros da corporação são orientados a não permitir que os moradores de rua permaneçam em determinadas áreas da cidade. “Não tem nada escrito que é para bater nas pessoas, mas que as pessoas têm que sair, têm que ser retiradas”, declarou ao justificar porque algumas vezes os guardas usam a força para remover as pessoas.
Trabalhando há cinco meses na cracolândia, o desembargador Antonio Carlos Malheiros também criticou a operação policial iniciada na semana passada. “Algo que parecia nas primeiras horas de ser uma operação para caçar traficante, transformou-se em uma caçada a usuários. Um grande desastre”, disse o magistrado que coordena a área de Infância e Juventude do Tribunal de Justiça de São Paulo.
O tribunal vem promovendo uma ação de aproximação entre os juízes e crianças e adolescentes que vivem entre os dependentes químicos na tentativa de encontrar maneiras de ajudá-los. Trabalho que foi perdido, segundo Malheiros, com a ação policial que espalhou os residentes da cracolândia pela cidade. “Nos desestruturou completamente. Vou ter que começar tudo de novo”, declarou.
O desembargador acredita, entretanto, que o inquérito instaurado ontem (10) pelo Ministério Público Estadual deverá ajudar a diminuir o uso da força contra os usuários de crack. “Tenho a impressão que depois da fala corajosa do Ministério Público ontem, as truculências tendem a ceder”.
Como resposta a abertura da investigação do Ministério Público, a Secretaria de Estado da Justiça e Defesa da Cidadania divulgou nota em que diz que a operação policial faz parte de uma estratégia conjunta entre o governo estadual e a prefeitura para combater o tráfico de drogas e dar assistência aos dependentes químicos. “Desde o princípio, governo e município foram claros em relação ao cronograma e ao caráter contínuo e de longo prazo da operação. Os resultados obtidos nestes primeiros dias estão dentro do planejado”, destaca o comunicado.
http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/a-forca-desproporcional-na-cracolandia


Para especialista, acolhimento sem respaldo médico é "constrangedor"
Por Bruno de Pierro, da Agência Dinheiro Vivo
Na última terça-feira (3), a Polícia Militar de São Paulo iniciou uma operação para reprimir o tráfico de drogas na região da Cracolândia, no centro da capital. A primeira etapa consistiu na remoção de dependentes que se aglomeravam na região e na limpeza das ruas, com caminhões-pipa. A iniciativa foi batizada de Operação Sufoco, e depois da dispersão dos dependentes químicos, a polícia fecha o cerco para identificar na multidão quais são usuários e quais são traficantes. Os primeiros, se não suportarem a abstinência ou não encontrarem outros locais para obter crack, espera-se que aceitem a assistência social; e o últimos serão presos.
A medida tem sido criticada por especialistas, por promover a dispersão de usuários, que se espalham por outros pontos da cidade. Além disso, a ação ocorre antes da inauguração de um complexo voltado para usuários de crack, com equipamentos de saúde. Segundo a PM, a assistência virá numa próxima etapa. Em comunicado na semana passada, o prefeito Gilberto Kassab disse que a medida não é “enxugar gelo” e que “já é um avanço elas [as pessoas doentes e dependentes] estarem numa região que tem polícia”.
Para falar sobre o assunto, Brasilianas.org ouviu o psiquiatra, ex-presidente e atual consultor da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas, Carlos Salgado. De Porto Alegre, Salgado explicou a experiência do CAPS-AD que coordena em Venâncio Aires, município do Rio Grande do Sul, e defendeu a reestruturação dos albergues. “Simplesmente fechar albergues, porque eles são ineficientes ou mal organizados, ou mesmo incompetentes, é uma atitude bastante ingênua”. Confira.
rong>BrasiliaBrasilianas.org - Existe hoje no país alguma iniciativa que sirva de modelo no combate ao crack no território urbano?
Carlos Salgado - Acho que infelizmente não. Existem vários esboços de iniciativas, inclusive entrando novamente na política federal, com a presidente Dilma repetindo o que havia dito o presidente Lula, com investimentos e aporte financeiro para uma série de ações, no caso mais recente no nível da assistência. Mas não há nenhum programa consistente focado no uso do crack, que tenha merecido alguma atenção maior. São várias tentativas, e, em geral, elas andam um pouco e são interrompidas, ou são inconsistentes, com algumas coisas que o governo federal tem feito; e aí o resultado acaba sendo bem pobre.
A lógica da iniciativa colocada em prática na cidade de São Paulo coloca, basicamente, que primeiro deve ser feita a descentralização do território tomado pelo crack. Depois, é feita a seleção daqueles que são traficantes e aqueles que são meros usuários. E estes, por fim, serão pressionados a buscar ajuda devido á abstinência. Há equívocos nessa abordagem por etapas?
A proposta geral é esta, uma sequência de ações, que poderiam ser em blocos, mas parece que a proposta é mesmo sequencial, e começa com medida repressiva para dispersar o tráfico. Sem dúvida que a relação entre uso e disponibilidade é íntima. Reduzindo a disponibilidade, a pessoa tende a usar menos e os mais dependentes vão procurar em outros pontos de venda, e os menos dependentes vão tolerar a diminuição da disponibilidade. Em si, é uma medida feliz, faz sentido: reprimir o tráfico, reduzir a disponibilidade, diminuir o uso e, portanto, os problemas.
No meio do caminho, porém, observando as pessoas mais dependentes, que sofrerão mais com a indisponibilidade da droga, vão se expor mais e buscar em outro ponto. E o traficante também tenderá a migrar para outro ponto, a não ser que o crime organizado que chega até o usuário seja desorganizado e abordado verticalmente. Parece-me que esse tipo de medida, de ir ao campo direto de venda, é das mais ingênuas, porque não é o traficante da ponta que determina se a droga estará plenamente disponível ou não, mas sim o sujeito que organiza a produção e coloca no mercado uma grande quantidade de droga. Mais do que pela ação policial direta, mas sim pela inteligência da polícia é que se poderia reprimir, e aí sim teríamos um resultado mais efetivo.
Mas já é um começo, uma ação inicial este de se abordar no território de conflito?
Existe a repressão, diminui-se a disponibilidade da droga, o usuário mais afoito vai seguir correndo atrás da droga e, no meio do caminho, tem-se uma reorganização daquele ambiente. E aproveita-se esse momento de reorganização para se introduzir o assistente social, que faz a abordagem inicial do indivíduo, contando com uma hipótese que é verdadeira que é a de que o indivíduo que é usuário é ambivalente, ou seja, ele gostaria, também, de se ver livre da compulsão. E aí ele fica mais sensível à abordagem quando a droga está menos disponível. Mas mais importante é introduzir o representante do sistema de saúde, desde que ele tenha respaldo, ou seja, para onde ele possa conduzir o usuário de droga. Caso contrário, ele fica numa posição bem constrangedora, o que é o mais comum nessas abordagens de rua.
Essa abordagem, da forma como é praticada no país, consegue absorver as demandas sociais, emotivas e psicológicas do usuário? Qual a experiência em Porto Alegre?
Olhando para o que estamos acompanhando, e como nós da ABEAD somos ouvidos com o propósito de formular políticas públicas - apesar dessa nova administração federal estar ouvindo menos a associação -, observamos que, claramente, a intenção é reduzir custos. Aliás, reduzir custos em saúde de uma forma geral e, em dependência química e saúde mental, muito mais ainda. A idéia é começar a oferecer um profissional lá na ponta, que seja mais viável para o admistrador público, e que não necessariamente seja o mais adequado para a demanda do indivíduo usuário de droga. Nesse sentido, vemos armada uma organização, no nível federal, da nação como um todo, de várias ações que nos parecem bastante ingênuas.
Realmente, o sujeito que dá o suporte, o primeiro atendimento, tipicamente é um profissional pouco preparado. Bem intencionado, certamente, e entusiasmado e guiado pela ideologia de que qualquer profissional bem intencionado pode ajudar o dependente químico, e não precisa ser um modelo medicalizado ou com a presença de um profissional médico, o que está errado. É um problema médico, e tem que ter um aporte. E aí a resposta do governo federal, às vezes implícita, é a de que isso é muito caro. Claro que é muito caro! Para dar uma boa atenção em cardiologia, por exemplo, a gente precisa de cardiologistas, não dá para fazer acolhimento de indivíduos que estão infartando. Acolher é uma pequena parte do processo, o que acaba sendo tomado como um todo. E o dependente do crack é um paciente que demanda uma atenção muito intensa e realmente, e infelizmente, medicalizada.
Mas e a experiência no Rio Grande do Sul?
O que tenho acompanhado aqui de nossa experiência é um serviço no interior do Estado, um CAPS-AD (Centro de Atenção Psicossocial - Álcool e Drogas) do qual sou supervisor. É um serviço organizado, com equipe multidisciplinar, numa cidade do interior, chamada Venâncio Aires, que fica na região fumageira (grande produção de tabaco), por ironia. Lá, temos uma equipe completa, com psiquiatra e um time inteiro, até o estagiário de psicologia, de educação-física; todo mundo trabalhando integrado, com reuniões semanais. Um serviço montado nesses termos, não importa o nome que ele tenha - seja Ambulatório de Dependência Química, seja CAPS-AD -, é um modelo bem estruturado em que os profissionais de diversas áreas interagem, respeitando os campos de ação um dos outros.
É um caminho multidisciplinar,e que não borra as margens e as fronteiras de um profissional com o outro. O psicólogo consegue agir plenamente, o psiquiatra, a assistente social, os técnicos de enfermagem, o professor de educação-física, até o porteiro tem uma instrução, para tolerar, manejar os pacientes. Essa é a proposta original de um ambulatório com nível de complexidade crescente; no caso do CAPS-AD já é de uma complexidade maior, pois é bem especializado. No caso do CAPS-AD de Venâncio Aires, a equipe conta com uma retaguarda razoável de atenção hospitalar, que está crescendo, e também, lá outra ponta, unidade terapêutica, para aqueles indivíduos que se desintoxicam e precisam de atendimento de longo prazo. è portanto um ambiente modelar, e que tenho certeza que em algumas cidades do interior de São Paulo tem sido reproduzido. Esse sistema falha quando tiramos desse sistema o psiquiatra, um psicólogo, um enfermeiro, fazendo a equipe emagrecer. Aí a coisa não funciona.
Em São Paulo, no ano passado, a prefeitura realizou um desmonte de vários albergues para sem-teto. Qual a importância que os albergues tem na organização do território e na condução de iniciativas como essa?
Essa é uma questão bastante relevante. Quando temos um ambiente estruturado, as relações humanas funcionam melhor. Exemplo: uma escola bem estruturada, os alunos difíceis são melhor conduzidos; quando a escola é mais frágil, com direção mal estabelecida, esse aluno difícil se torna mais difícil. Voltando para a grande comunidade, aquele indivíduo que dentro do tecido social está mal sustentado, mal engajado, não tem seu foco de presença, por exemplo o sem-teto, o indigente - e dentre esses indivíduos, há casos psiquiátricos que são banidos do grande hospital, ou então saem do programa De Volta para Casa, do SUS, e voltam para a rua - muitos apresentam psicopatologias. Quando mantemos um ambiente razoavelmente organizado, aumentam as chances desses indivíduos chegarem a alguma forma de reorganização de sua vida.
Então, simplesmente fechar albergues, porque ele são ineficientes ou mal organizados, ou mesmo incompetentes, é também uma atitude bastante ingênua. Preparar, equipar e treinar equipes dentro desses albergues, ou outras formas alternativas, isso sim é feliz. Acredito que no país inteiro há várias iniciativas equivocadas, em termos até de respeito ao indivíduo que procura ajuda. Mas em lugar de fechá-las, a primeira atitude do poder público é de equipá-las, adequá-las e fiscalizá-las, para que possam chegar o mais próximo possível das determinações da Anvisa, que são claras e bem interessantes.
O senhor falou de um modelo medicalizado. Em contrapartida, temos outro modelo, também exitoso, que é o das organizações anônimas, como Álcoolicos Anônimos e Narcóticos Anônimos. Nessa abordagem, temos o doente falando de sua doença com outros doentes, tirando do foco a figura do especialista e da autoridade médica.
Clinicamente, essa questão é mais relevante do que já conversamos até agora. A relação do indivíduo com o álcool, o tabaco e outras drogas é de natureza complexa. Envolve a variável fundamental, que é a disponibilidade, ou seja, é uma doença que depende totalmente do ambiente, sem a droga o sujeito não consegue ser dependente; mas nos seus desdobramentos, realmente tem uma complexidade muito grande: questões econômicas, questões do indivíduo e, claro, questões ambientais facilitadoras ou inibidoras do uso.
Do ponto de vista da terapêutica, a gente também tem um arsenal variável, adaptável e ajustável a um dado indivíduo. Por exemplo, eu sou um psiquiatra que atende em clínica privada, já atendi pacientes do SUS por 13 anos dentro de um hospital público, e o modelo é o mesmo. è preciso oferecer mais de uma opção, atendimento de grupo, atendimento individual, diagnóstico esclarecedor da condição e também o grupo de auto-ajuda. O grupo de auto-ajuda, muitas vezes, para alguns indivíduos, acaba sendo o melhor recurso, mesmo para indivíduo muito sofisticado, muito rico, com todas as outras opções.
Agora, esse percurso, que é objeto de relato, é interessante, porque não é que o indivíduo tenha falhado em todos os outros recursos. na verdade, é um acúmulo de tentativas que leva ao desfecho final. Eu recebo pacientes que passaram nas mãos de vários outros colegas, e eles me dizem “o outro doutor tentou me ajudar e não conseguiu”. penso que, na verdade, cada um conseguiu um pouco, pois como é complexo e repetitivo [o tratamento], quando se acumula várias tentativas, na maioria das vezes o desfecho é positivo.
Fmenezes disse...
As vezes a gente compartilhando “experiencias” (neste caso principalmente informacao) a gente alimenta o debate, gera ideias e chega a algumas conclusoes e solucoes:
Aqui em Munique – Alemanha, existe uma ONG (que minha esposa como psicologa acabou de fazer estagio por 3 mese, porisso tenho informacoes) que trabalha com os drogados daqui.
Pode acreditar, tem muito, mas MUITO drogados poraqui. MUITO MESMO!
Esta ONG tem numa cidade de 1 milhao e meio de habitantes, 3 restaurantes ponto de encontro para os drogados e alcoolatras se encontrarem todos os dias.
Em cada um destes restaurantes recebem diariamente uma media de 100 drogados/alcoolatras diariamente.
Estes sao os drogados/alcoolatras que nao desejam se tratar. Estes querem se drogar ate a morte. Eh isso mesmo!!!
Os pontos de encontro/restaurante, servem almoco diariamente a precos muito baixos. So nao pode consumir droga no local e nem bebida alcoolica. Vendem tambem cafe e refrigerante a precos muito baixos. As vezes abaixo do custo. Claro que praticamente tudo sao doacoes coletadas pela ONG.
Esta ONG nao deseja convencer o drogado/alcoolatra a mudar de vida, apesar da mesma ONG tambem ter varias clinicas de recuperacao na cidade e no estado da Baviera. O motivo eh atrair os drogados/alcoolatras e manter uma relacao de confianca com os mesmos.
Um dos maiores objetivos da iniciativa eh tentar minimizar as contaminacoes de doencas transmissiveis por agulha (AIDS e Hepatite) , ajudar os drogados/alcoolatras em assuntos burocraticos de moradia e renda e tambem objetivo de diminuir o maximo possivel a violencia causada por estes pobres coitados quando estao desesperados na necessidade da droga.
Para ajudar na burocracia, moradia a ONG tem varios profissionais da area de Assistencia Social para apoiar diariamente os mesmos.
Para diminuir a contaminacao (AIDS, Hepatite) a ONG distribui diariamente centenas (as vezes milhares) de agulhas, seringas, colher de prata, material de limpeza, vitamina pra misturar na droga, etc, etc. Tudo que eh necessario para se “drogar com seguranca” no que diz respeito a contaminacao. Tambem fornecem testes gratuitos de AIDS e Hepatite 3 a 4 vezes ao ano. Tambem tem palestras de medicos explicando como a contaminacao acontece, etc, etc.
Agora o mais arrepiante pra nos. A ONG com objetivo de minimizar ao maximo a violencia causada pela dependencia fisica, empresta dinheiro (tudo oficial e legal) para os drogados/acoolatras comprarem drogas e bebidas. E podem acreditar: Os caras pagam direitinho as dividas. A inadimplencia eh proximo de zero. E isso eh para evitar que alguem tenha que cometer pequenos roubos pelas ruas para conseguir dinheiro pra comprar drogas.
A grande maioria desses condenados, eh sustentada pelo governo e ganham mensalmente uma ajuda de custo de vida. Pelo que aprendemos, o dinheiro eh gasto praticamente nos 2 primeiros dias no pagamento das dividas, drogas e alcool. No resto do mes acabam se drogando com ajuda de amigos, etc, etc.
Numa visao mais globalizada, entendemos que estas acoes acabam sustentando o trafico de drogas que traz drogas de varios lugares do mundo, inclusive Brasil. Mas de qualquer forma eh com este tipo de acao, que o nivel de violencia baixissimo eh mantido no “primeiro mundo”.
Nao seria o caso de pelo menos tratar os condenados paulistanos com um pouco mais de carinho?



Algumas falas da Cracolândia
Autor: 

A loucura se reveste de varias e infinitas formas;é possível que os estudiosos tenham podido reduzi-las em uma classificação, mas ao leigo ela se apresenta como as árvores, arbustos e lianas de uma floresta; é uma porção de coisas diferentes. 
Lima Barreto – trecho de Cemitério dos Vivos

O taxista Gilberto, 12 anos trabalhando na região da Cracolândia, fala sem pensar muito:
- Tem “nóia”, tem menino aventureiro, ladrão, traficante, gente desiludida … e muita tristeza…
Gilberto fica parado na Avenida Rio Branco, perto do quadrilátero que já foi chamado do prazer, perto da zona, perto do fim da cidade.
A semana da eugenia, da gentrificação, do higienismo, do “vamos vencer pela dor” marca um divisor de águas. Varrer a droga é difícil, então é melhor varrer as pessoas. Não, não, nunca houve uma interrupção na lógica de expulsar. Do centro pra longe. O centro é a síntese da exclusão que a cidade opera no geral. O centro não pode ser dos “nóias”. Avante, espírito bandeirante.
E pergunto ao menino seu nome, ele diz que não tem nome há bastante tempo. Não insisto, seu nome foi embora e ficou o olho retesado, o resquício de ironia que ele arranca da boca e me faz sorrir, meio torto:
- Minha família tá perdida na quebra, na ZL, eu tô aqui… não tô perdido…tio, depois desse lance da Copa do Mundo a coisa melhora, mas os coxinha … as noites são de horror.
Eu fico com meu pensamento confortável a imaginar as noites de horror, de sono interrompido, de sono inexistente. A vida porrada não é videogame. O menino vai embora e dá de ombros dizendo que o um real que eu dei pra ele é falso. Sorri maneiro, ele não tem nome, mas ainda tem graça. Some na rua qualquer.
Manhã de sábado, o sol estalando, o comércio correndo solto. Nas bordas da Rua Santa Ifigênia se vende de tudo. Tem gente circulando, não como sempre, pois, mês de férias. Mas o movimento dos nóias é diferente. Um sem rumo, não pode aglomerar, nem bodar na calçada. Tem que circular, os olhos vidrados parecem faróis no meio do clarão do sol, a cidade grande fica pequena. Cobertor encardido, roupa no corpo há dias, mão tremendo, sorriso indefinido ou olhar em lugar nenhum. Não tem glamour nesta droga.
E de novo Gilberto, o taxista:
- Aos poucos os moradores de rua foram se misturando ao exército da droga e aí ninguém sabia mais quem era quem. Conheço morador de rua que virou nóia, que virou puta, as pessoas mudam toda hora de lugar nesta vida…
É evidente que em meio aos viciados em crack nas ruas, têm famílias inteiras, solitários, os perdedores de sempre. A droga é parte da coisa. A quantidade de pessoas pelo centro de SP andando a esmo com os olhos estalados pela química, pelo medo, pela desorientação é impressionante. Os catadores de papel solidários entre si, em geral com suas garrafinhas de plástico com pinga e seus cachorros inseparáveis.
Pedro do Boné, catador de papel, 15 anos na rua, golando uma branquinha:
- Os nóias se esticam por ai como a gente. Não incomodam. Não mexendo no meu carrinho, vivo a vida.
Não cabe romantismo, são vários tipos, o rapaz que veste roupas de marca e que parece apenas ter dormido uma noite por ali. Não esta no trapejo, na batida das ruas. Será nóia, será trafica, meio cismado, misturado ao exército de tipos de rua, cochicha no ouvido de um rapaz e saí vazado pela Rua Vitória. Ao olho nú de quem passa rápido é mais um. Volta depois e faz o movimento. Na função, normalmente.
O moço cismado, com a camisa do Atlético – MG sentado no sujinho:
- Continua tudo rolando, nada mudou. Quem ganha dinheiro continua a ganhar, quem perde a vida… nóia? Só espalharam por aí…
No sujinho perdura a falação, o sentimento geral é de que não vai ter jeito, os nóias vão voltar. Os anos passaram e a convivência com o crack, com os pedreiros e com o movimento ao redor faz parte da vida daquela gente. Tem a violência, a sujeira, as relações se misturam: medo, desprezo, compaixão, repulsa, uma solidadariedade ali e aqui. A cerveja é quente demais. Peço uma Brahma que saí da geladeira formal. Quente.
O espaço é confinado. No meio da Duque de Caxias, um brutamonte com um taco de baseball na mão e capacete de motoqueiro cravado na cabeça corre atrás de uma dúzia de nóias. Blade Runner. A fala é seca, o brutamonte: vocês já conhecem a gente, é simples, só vazar… os rapazes, velhos, crianças, moças, aos trancos e barrancos correm e vazam e nem sabem para onde. Uns xingam, quixotes.
Volto ao Gilberto, o taxista:
- Quem são esses caras com taco de baseball?
– Seguranças das lojas… bom, você não vai me complicar?
Tranqüilizo o capixaba que mora no centro desde 1993 e trabalha como taxista desde 2000:
- Não tenho como, não vou e não quero te prejudicar, no máximo ponho isso no blog e você se chamará Gilberto, ok?
- Esses caras são de empresas de segurança e ficam ali, eles não batem em ninguém, apenas dispersam o povo. Nóia tem lei, morador de rua tem lei, segurança tem lei… agora eles entenderem a lei dos PMS…vixe…
O debate do boteco come solto. A conversa passa sobre o prédio que não caiu (acham que roubaram a dinamite), assuntos locais, futebol, as correrias de cada um… e claro, os nóias. A cerveja quente no dia quente já não faz diferença.
O amigo do atleticano, com sotaque forte do interior de São Paulo arremata:
- É como barata, não tem jeito, tem que matar, senão volta em dobro. Outro dia dei uns trocados pra um deles, voltou com uma faca para me roubar na mesma hora. Trabalho aqui e tenho que me defender, dei umas pauladas… é como barata...
Passei por várias praças, todos com carros da PM estacionados. Nem sempre é assim tão rigoroso. Largo Santa Ifigênia, Sala São Paulo, Estação da Luz, Museu da Língua, Praça Princesa Isabel, Praça General Osório … tudo bem guardado.
Um rapaz, idade indefinida (não dá pra chutar) abraça uma garota que dá pra definir a idade, tem menos que 15 anos. Os dois deliram no sol, parece sonho conjunto, mas ali no máximo é bad tripde asfalto, pesadelo de verdade, sem música de fundo. Não tem amor que resista. Dois minutos, ele sai praguejando e batendo os braços:
- Vai ser muié de coxinha, porra… saí da minha reta…
Três horas e meia bandeando por ali, vou ficando sem função, como dizem os descolados: dando guela. Vou embora. Peço pro Gilberto, agora quase brother, pra me levar para o outro lado da cidade (eu tinha pra onde ir). A gente foi papeando, pergunto se ele já não cansou daquela tensão da região. Gilberto olha pra baixo e responde sincero:
- Engraçado, acostumei, fui ficando, agora não saio mais… no final das contas todo mundo ali é gente, boa e ruim…
A Cracolândia tem gente, uns trabalham, uns moram, outros morrem. Gente não se dispersa assim, não dá pra varrer.

Cracolândia: a falência da gestão pública paulista

Autor: 
 
O que ocorreu na invasão da Cracolância é exemplo claro da falta de ferramentas mínimas de gestão no governo e da prefeitura de São Paulo.
Com exceção de Mário Covas, nenhum de seus sucessores têm noção mínima sobre gestão, sequer o be-a-bá, quanto mais outras formas mais aprimoradas, como a gestão interdisciplinar - entre várias secretarias - ou a gestão com participação da sociedade civil.
Quando sugerido a Serra que se inteirasse de ferramentas de gestão, sua resposta - típica da arrogância despreparada - era que não precisava disso porque sabia fazer acontecer. Jamais realizou uma reunião sequer de secretariado. Houve secretário que entrou no governo e saiu sem conhecer outros colegas.
Na sua primeira gestão, Alckmin não foi melhor. A grande crise da segurança do PCC decorreu da incompatibilidade entre secretários da área - Justiça, Segurança e Administração Penitenciária - e falta de pulso de Alckmin para organizar reuniões conjuntas.

No episódio das enchentes, com Serra, outro exemplo clamoroso da falta de gestão, não se tem notícia de uma reunião conjunta sequer dos setores que compõem a defesa civil do Estado. A tal ponto que Serra entrou na campanha presidencial supondo que Defesa Civil era uma organização tipo Corpo de Bombeiros e não uma articulação das diversas organizações envolvidas com desastres.
Trabalho intersetorial consiste em identificar o problema - resolver a questão da cracolância. Depois, juntar todos os setores responsáveis - Secretarias da Saúde do Estado e do Município, PM, Guarda Municipal, Ministério da Saúde - mapear todas as etapas e definir a responsabikidade de cada um e a articulacao entre as acoes.
Nessas reuniões se estudaria, primeiro, onde alojar os desabrigados. Depois, como preparar a recepção. Finalmente, a ação propriamente dita, com agentes de saúde, primeiro, tirando os viciados. Depois, a PM e a PF entrando em cena contra os traficantes.
Finalmente, as ações de longo prazo, visando o tratamento dos necessitados.
Fala-se muito em Brasil grande, em nova etapa do desenvolvimento brasileiro, mas o maior estado do país não tem noção mínima de gestão pública. Enquanto isto, organizações que poderiam trabalhar a inteligência do estado - como Fundap, Seade, Cepam - continuam às moscas.
Faria melhor Alckmin em providenciar um estágio dos secretários paulistas com o pessoal do PAC, no governo federal, ou com os governos de Minas, Pernambuco e Espirito Santo.
http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/cracolandia-a-falencia-da-gestao-publica-paulista


Por Alexandre Ferreira
Caro Luis,
Segue para conhecimento e divulgação nota do Centro Acadêmico XI de Agosto - Faculdade de Direito da USP repudiando a ação violenta na Cracolândia. Coletamos assinaturas no meio acadêmico e na sociedade civil organizada. Assinam, entre outros, professores titulares da Faculdade de Direito, da FFLCH e da Psicologia da USP, além do diretor da Faculdade de Direito da USP, O ex-Ministro do STF Eros Grau, o ex-Ministro da Justiça Miguel Reale Jr e o historiador Boris Fausto. A nota também conta com entidades da sociedade civil, como o Ministério Público Democrático  
Atenciosamente,
Alexandre Ferreira 
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Diretor Geral do Centro Acadêmico XI de AgostoFaculdade de Direito do Largo de São FranciscoRua Riachuelo, 194, São Paulo - SP Telefone: (11) 8087-1365 e (11) 3111-4082 / 4083 http://www.xideagosto.org.br     
NOTA DE REPÚDIO À POLÍTICA DE “DOR E SOFRIMENTO” NA CRACOLÂNDIA
O Centro Acadêmico XI de Agosto, entidade representativa dos estudantes da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco (USP), vem a público manifestar repúdio ao Plano de Ação Integrada Centro Legal, iniciado em 03 de janeiro de 2012 na Cracolândia, região central de São Paulo.
O plano é errado tanto na sua concepção, quanto no modo como é executado. Esse projeto envolve a ação da Polícia Militar na região, buscando inibir o tráfico de drogas e dispersar os seus usuários, que também seriam impedidos de se fixar em outros locais. A denominada “política de dor e sofrimento” visa provocar abstinência nos usuários de crack, a partir da qual, em visão equivocada, eles buscariam tratamento junto ao Poder Público.
Deve-se atentar, primeiramente, à fragilidade desse plano, pois parte do pressuposto que o sentimento de fissura do usuário em abstinência ocasionará seu interesse em buscar tratamento, ignorando os demais efeitos, como outros problemas de saúde ou reações violentas à abstinência. Ainda que essa política agressiva e desumana em andamento efetivamente gerasse busca por tratamento, a cidade de São Paulo não teria condições para atender os usuários, pois carece de estrutura adequada para tanto. E pouco se faz a esse respeito.
Diversos agentes do Poder Público também têm reiterado que a migração dos usuários a outras regiões será combatida, concluindo-se, então, que a operação será estendida para outros pontos da cidade. Transparece, dessa forma, a adoção de uma estratégia que somente expulsa os usuários de um lugar a outro, continuamente, em detrimento da oferta de alternativas reais de reabilitação que respeitassem verdadeiramente a dignidade dessas pessoas e visassem, de fato, recuperar sua saúde. 
A execução do plano é reflexo dos problemas em sua concepção. As autoridades afirmam que o crack é uma questão de saúde pública. A prática, entretanto, prova o contrário. A ação policial ostensiva, planejada e detalhada, reprime o usuário e contrasta com a nebulosidade do plano de ação referente à recuperação da saúde dessas pessoas. O alvo da polícia, que seria o tráfico, acaba sendo o usuário.  A eficácia no combate ao tráfico é mínima e o desrespeito aos usuários, enquanto seres humanos, enorme.
O Plano de Ação Integrada Centro Legal limita-se, portanto, à ação policial direcionada aos usuários e tem ensejado constantes violações aos seus direitos. É inadmissível, em um Estado Democrático de Direito, que agentes do Poder Público cometam repetida e sistematicamente atos de agressão física e moral contra os cidadãos, em claro abuso de autoridade e desrespeito aos direitos humanos. O combate ao tráfico de drogas não pode servir de pretexto para ignorar a necessidade de implementação de políticas públicas de saúde e assistência social para uma população marginalizada e doente.
A simples e violenta retirada dos usuários de crack do espaço público não resolve o problema de uma população já desamparada, que não tem outro lugar aonde ir e que sofrerá forte repressão policial para somente então, e em visão equivocada, perambular em busca de uma ajuda incerta.
Sendo assim, as entidades e pessoas abaixo assinadas declaram que
Não admitem que os usuários de crack, parcela vulnerável e marginalizada da nossa sociedade, tenham como tratamento estatal a ação policial repressiva no lugar da implementação de políticas de saúde pública e de assistência social;
Não admitem que essa população seja expulsa dos espaços públicos que ocupa, sendo forçada a uma migração permanente, em que não há real perspectiva de melhora de vida;
Não admitem que uma operação estatal seja realizada em desrespeito aos direitos humanos, e que agentes estatais cometam sistematicamente atos de agressão física, moral e patrimonial contra a população, de modo indevido e impunemente.
Centro Acadêmico XI de Agosto – Faculdade de Direito da USP
Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos
Centro Franciscano - SEFRAS
Clínica de Direitos Humanos Luiz Gama – Faculdade de Direito da USP
Instituto Luiz Gama
Instituto Pólis
Instituto Práxis de Direitos Humanos 
Instituto Terra Trabalho e Cidadania – ITTC
Movimento Ministério Público Democrático
Núcleo de Antropologia Urbana da USP 
Pastoral Carcerária
SAJU - Faculdade de Direito da USP
UNEafro-Brasil

Alamiro Velludo Salvador Netto – Professor Doutor do Departamento de Direito Penal, Medicina Forense e Criminologia da Faculdade de Direito da USP
Alvino Augusto de Sá – Professor Doutor do Departamento de Direito Penal, Medicina Forense e criminologia da Faculdade de Direito da USP
Alysson Leandro Barbate Mascaro – Professor do Departamento de Filosofia e Teoria Geral do Direito da Faculdade de Direito da USP
Amando Boito Jr. – Professor da Unicamp
Antônio Carlos Amador Pereira – Psicólogo e Professor da PUC-SP
Antônio Magalhães Gomes Filho - Professor Titular de Processo Penal e Diretor da Faculdade de Direito da USP
Boris Fausto - historiador e professor aposentado do Departamento de Ciência Política da FFLCH - USP
Caio Navarro de Toledo - Professor do IFCH da Unicamp
Celso Fernandes Campilongo – Professor Titular do Departamento de Filosofia e Teoria Geral do Direito da Faculdade de Direito da USP
Eros Roberto Grau – Professor Titular aposentado da Faculdade de Direito da USP e Ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal
Dimitri Dimoulis - Professor de Direito Constitucional da Direito GV
Geraldo José de Paiva - Professor Titular do Departamento de Psicologia Social e do Trabalho do Instituto de Psicologia da USP
Gilberto Bercovici – Professor Titular do Departamento de Direito Econômico, Financeiro e Tributário da Faculdade de Direito da USP

Jorge Luiz Souto Maior - Professor Associado do Departamento de Direito do Trabalho e da Seguridade Social da Faculdade de Direito da USP
José Antonio Pasta Junior – Professor Livre-Docente da Faculdade de Letras da FFLCH USP
José Guilherme Cantor Magnani – Professor Livre-docente do Departamento de Antropologia da FFLCH-USP
José Tadeu de Chiara - Professor do Departamento de Direito Econômico, Financeiro e tributário da Faculdade de Direito da USP
Lídia de Reis Almeida Prado - Professora Doutora do Departamento de Filosofia e Teoria Geral do Direito da Faculdade de Direito da USP
Marcio Naves - Professor de Sociologia do IFCH – Unicamp
Marcio Suzuki - Professor da Faculdade de Filosofia da FFLCH USP
Marcus Orione - Professor Associado do Departamento de Direito do Trabalho e da Seguridade Social da Faculdade de Direito da USP 
Mario Gomes Schapiro - Professor da Direito GV
Mariângela Gama de Magalhães Gomes- Professora Doutora do Departamento de Direito Penal, Medicina Forense e Criminologia da Faculdade de Direito da USP
Miguel Reale Júnior - Professor Titular do Departamento de Direito Penal, Medicina Forense e Criminologia da Faculdade de Direito da USP e ex-Ministro da Justiça
Nádia Farage - Diretora do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp
Otávio Pinto e Silva - Professor Associado do Departamento de Direito do Trabalho e da Seguridade Social da Faculdade de Direito da USP 
Paulo Eduardo Alves da Silva - Professor do Departamento de Direito Privado e Processo Civil da Faculdade de Direito de Ribeirão Preto – USP
Ricardo Antunes - Professor de Sociologia do IFCH – Unicamp
Samuel Rodrigues Barbosa - Professor Doutor do Departamento de Filosofia e Teoria Geral do Direito da Faculdade de Direito da USP
Sérgio Salomão Shecaira - Professor Titular do Departamento de Direito Penal, Medicina Forense e Criminologia da Faculdade de Direito da USP


Atualização - 13/12/2012

Outros links para textos sobre o assunto

O crack, a doença e a internação compulsória
http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/o-crack-a-doenca-e-a-internacao-compulsoria

Comentário ao post "O Crack, a doença e a ainternação compulsória
http://www.advivo.com.br/blog/jose-carlos-lima/comentario-ao-post-o-crack-a-doenca-e-a-internacao

Cenas da Cracolândia
http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/cenas-da-cracolandia

Especialista defende internação "à força" para viciados da Cracolândia
http://anjoseguerreiros.blogspot.com/2012/01/especialista-defende-internacao-forca.html


Sobre a internação "à força" de viciados
http://www.advivo.com.br/blog/jose-carlos-lima/sobre-a-internacao-forcada-para-viciados

Comentário ao post "Cenas da Cracolândia"
http://www.advivo.com.br/blog/jose-carlos-lima/comentario-ao-post-cenas-da-cracolandia



Atualização - 13/01/2012 
A  "Operação Sufoco Daqui" foi bem semelhante à daí. Por aqui os resultados foram decepcionantes,  o que deve se repetir aí, assista ao vídeo:
"Após operação da PM, moradores voltam para as ruas de Goiânia.
Polícia recolheu 140 moradores de rua, mas apenas seis foram abrigados.
Semas alega que antes de abrigá-los é preciso que eles aceitem ir."
Usuários e andarilhos de volta às ruas da capital
Pessoas abordadas pela Operação Salus voltaram a frequentar os mesmos locaishttp://www.sinpolgo.org.br/v2/index.php?option=com_content&task=view&id=3920&Itemid=1

Atualização -


Urgente

Como ocorreu em Goiânia, cuja "Operação Sufoco"foi um fracasso, todos já voltaram para o "lar". A de SP, como se vê nesta postagem, teve o mesmo resultado


Mudança de Postura na Cracolândia


Do Estadão

Desgaste faz polícia liberar volta da cracolândia a 50 metros da original

Segundo comandante-geral da PM, ordem é não dispersar mais aglomerados de viciados, mesmo quando estiverem bloqueando ruas

BRUNO PAES MANSO, WILLIAM CARDOSO - O Estado de S.Paulo
O desgaste da Polícia Militar nos dez primeiros dias de operação na cracolândia levou o comando da corporação a mudar a estratégia de ação na região. Como resultado, mais de 200 consumidores voltaram no fim da tarde de ontem a se aglomerar na Rua Helvétia, a 50 metros do local que concentrava usuários antes do começo da operação. Dezenas fumavam crack ao ar livre.
Multidão de viciados em crack tomam novamente a Rua Helvétia, no centro de São Paulo - Tiago Queiroz/AE
Tiago Queiroz/AE
Multidão de viciados em crack tomam novamente a Rua Helvétia, no centro de São Paulo
M, coronel Álvaro Batista Camilo, disse que, ao contrário do que vinha ocorrendo nos primeiros dias de operação, ontem a ordem era não intervir nos aglomerados, mesmo quando estivessem bloqueando a rua.
Segundo ele, como as ruas da cracolândia são estreitas e de pouco movimento, não há necessidade de intervenção urgente. "Ali é diferente das Marginais, por exemplo, onde a polícia não pode deixar de atuar se fecharem o trânsito."
Camilo disse que o plano a partir de agora é conversar e explicar aos usuários que eles não devem impedir o trânsito. Policiais foram orientados a só agir para impedir a ação daqueles que estiverem consumindo drogas em público e prender quem estiver traficando. "São pessoas que estão fragilizadas, que têm o direito de permanecer na rua se não estiverem cometendo nenhum tipo de crime", disse o comandante-geral.
A tolerância da PM com os aglomerados acabou desinibindo o consumo. Com dezenas de pessoas consumindo crack, sem o apoio do Policiamento de Choque e sem autorização para dar tiros borracha e usar bombas de efeito moral, não havia policial que se arriscasse a entrar no meio dos dependentes à noite para fazer cessar o consumo. "Sabe como eu me senti quando vim trabalhar? Algemada", afirmou uma policial ao Estado, reclamando dos limites impostos pelo comando.
O agrupamento começou a crescer já por volta das 17 horas. E, pelo menos até a meia-noite, os viciados ainda não haviam sido incomodados pelos policiais. Nesse horário, era possível ver dezenas de brasas de cachimbo queimando em plena rua. E até o chamado "samba da pedra" - roda de pagode de usuários do local - já havia voltado às Ruas Dino Bueno e Barão de Piracicaba. Ao passar pelo local, um morador do bairro comentou em voz alta: "É a vitória dos noias". Policiais assistiam a tudo de braços cruzados.
Estado acompanhou a reclamação feita por um motorista de táxi aos policiais de uma viatura estacionada na Rua Dino Bueno. Ele avisava que às 20 horas os consumidores de crack já haviam bloqueado a Rua Helvétia. Duas mulheres e um homem da PM ouviram a reclamação e nada fizeram.
Nas grades da antiga rodoviária, barraquinhas de lona voltaram a ser formadas para abrigar os dependentes de drogas da fina garoa que caía na noite de ontem. O clima era de festa e alguns "noias" passavam gritando, como se celebrassem o retorno ao local.
Segundo os PMs que estavam na região, era importante evitar que os dependentes voltassem aos antigos esconderijos na Dino Bueno. Já na Barão de Piracicaba, 50 metros adiante, a ordem era não intervir. "Se você me disser que há alguém fumando e fizer essa denúncia, eu vou lá e prendo", disse um sargento da PM quando a reportagem perguntou porque eles não estavam abordando os usuários.
Motivos. Autoridades culpavam principalmente os defensores públicos pela dificuldade de atuar na cracolândia. O secretário de Segurança Pública, Antonio Ferreira Pinto, por exemplo, reclamou que grupos de defensores públicos passaram o dia incentivando consumidores de crack a permanecer no local. "Alguns são meus amigos, mas eles estão exagerando e dificultando o trabalho da PM", criticou.
Já Camilo afirmou que no começo da tarde foi informado por policiais de que um grupo de quatro a cinco defensores havia se reunido na Helvétia para conversar com usuários de drogas. E até uma barraquinha teria sido montada para atendê-los, o que a Defensoria nega. Essa conversa com os defensores, segundo o comandante-geral da PM, pode ter sido o motivo do grande reagrupamento de viciados na rua.
A defensora pública Daniela Skromov, do Núcleo de Direitos Humanos da entidade, afirmou que defensores realmente "dialogaram" com usuários de droga. E explicaram a eles sobre direitos, incluindo o de ir e vir. Policiais também foram procurados para ouvir as mesmas explicações. "Conversamos sobre direitos. Não estamos estimulando ninguém a ficar lá", disse ela.
Hoje, a pressão sobre a atuação da PM na cracolândia deve continuar. Camilo vai ao Ministério Público conversar com os promotores que na terça-feira abriram inquérito para justamente investigar a operação policial na região.
Churrascão da gente diferenciada: versão “cracolândia”

Agora, o churrasco da “gente diferenciada” será no centro de São Paulo. A provocação está sendo organizada como forma de protesto e acontecerá neste sábado, dia 14, contra o tratamento que o Estado está dando para os dependentes químicos que vivem na região conhecida como “cracolândia”, entre a Santa Ifigênia e os Campos Elísios.
A violência e o desrespeito que têm caracterizado a ação da Polícia Militar fazem parte de um processo de limpeza social e segregação disfarçado por um discurso de combate às drogas, que também oculta o aumento do interesse do setor imobiliária na área . O problema é que a estratégia  de “dor e sofrimento” que a polícia tem adotado de nada vai adiantar para resolver a questão dos dependentes químicos em situação de rua, que só têm se dispersado pelo centro.
O churrascão deste sábado é uma reação bem humorada e bem organizada para mostrar que nem todos concordam com a mera expulsão dos dependentes da região como meio de solucionar o problema das drogas: um problema de natureza muito mais complexa do que aquilo com que o tratamento policial, comprovadamente, pode lidar.
A organização do churrascão pede que as pessoas levem instrumentos musicais, cartazes, vassouras e sacos de lixo, para a limpeza do lugar, além, obviamente, da comida e da churrasqueira – para quem puder. Acesse aqui a página do facebook do churrascão para mais informações.
Quando: Sábado, 14/01, às 16h
Onde: Rua Helvétia com Dino Bueno, São Paulo


O churrascão da gente diferenciada na Cracolândia

10 Cenas do Churrascão da Gente Diferenciada na Cracolândia
Neste sábado (14), centenas de pessoas compareceram para o "Churrascão da Gente Diferenciada", entre as esquinas da rua Helvética com a Dino Bueno, na região conhecida como Cracolândia, centro de São Paulo. Nas imagens realizadas pelo jornalista e social mídia Lauri Castro*, colaborador especial do Vermelho, você confere alguns momentos do evento que trouxe, além do churrasco, música e arte para protestar contra a Operação Sufuco. 


  Foto: Lauri Castro
Churrasco de linguiça, vinagrete e pão. Moradores aproveitam pra comer à vontade no Churrascão da Gente Difrenciada

 Foto: Lauri Castro
Mais moradores da região conhecida como Cracolândia comem churrasco durante evento.

 Foto: Lauri Castro
Muita música no Churrascão da Gente Diferenciada.


 Foto: Lauri Castro
Os próprios usuários que moram na região da Cracolândia fazem batucada durante o Churrascão.


 Foto: Lauri Castro
Polícia caminha entre protestantes do Churrascão da Gente Diferenciada.
 Foto: Lauri Castro
PMs registram Churrascão e acompanham tudo com helicóptero da polícia.
 Foto: Lauri Castro
Protestantes mostram formas divertidas de participar do evento.

 Foto: Lauri Castro
Antiga moradia de usuários de crack, conhecido como Castelo de Grayscow, na Rua Dino Buêno.

 Foto: Lauri Castro
O morador da região da Luz e ex-usuário de crack, Antônio José da Silva, conhecido como Piauí da Ecologia.

Outras postagens

O Churrascão no vestíbulo do inferno


Churrascão da gente diferenciada


Crack: Alckmin e Kassab quiseram se antecipar à ação federal

Programa de TV com Luis Nassif: Brasilianas.Org discute a Cracolândia e o combate às drogas

Os dados oficiais da Operação Cracolândia
Meu comentário ao post "Os dados oficiais da Operação Cracolândia"

Quantos dos deslocados à força da Cracolânia foram reintegrados à sociedade. Quantos estão perambulando por aí. Quantos apenas mudaram de lugar. Como se sabe, a Cracolândia continua a mesma, apenas foi dispersada em atendimento à especulação imobiliária, um dos traços da gestão Kassab. Que estatistica  das mais furadas. Já não é a primeira vez que a Cracolândia é pulverizada, a este respeito leia este ótimo texto do Eduardo Guimarães
Walter Maierovitch: Cracolândias, as horas das narcossalas


Meu comentário

Cracolândia x corporocracia: "Nova Luz" não convenceu capital privado
http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/nova-luz-nao-convenceu-o-capital-privado-diz-urbanista


Imperdível este texto publicado na Carta Maior e reproduzido no LNO
O abandono social do crack
http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/o-abandono-social-e-o-crack

O assunto se encerra com a questão das internações, isso foi debatido, e terminamos abordando sobre a Reforma Psiquiátrica
http://blogln.ning.com/profiles/blogs/coment-rio-ao-post-os-rf-os-do-poeta-ferreira-gullar?xg_source=activity

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